Não sendo especialista na matéria andei a fazer várias pesquisas para me inteirar sobre o assunto. Cheguei a várias conclusões que gostava de partilhar hoje, sexta-feira com todos vós. Melhor gostava de deixar questões em aberto para que possam pensar e encontrar as vossas soluções durante o fim de semana.
Em primeiro lugar é importante clarificar o que é desperdício alimentar. Considera-se desperdício alimentar as perdas que ocorrem em qualquer fase da cadeia alimentar, desde a produção ao consumo, e que implicam que os alimentos não cumpram o propósito para o qual foram produzidos, isto é para serem “comidos” por nós consumidores.
Ao pesquisar deparei que o desperdício foi evoluindo ao longo da História da Humanidade. Supõe-se, de facto, que a agricultura foi descoberta pelas mulheres, que permaneciam mais tempo no lar. Algumas delas devem ter reparado que os grãos caídos no solo começavam a germinar… É assim que cerca de 6500 anos antes de Cristo, o trigo e a cevada são cultivados no Próximo Oriente. A agricultura estende-se então para sudeste e depois para o Norte da Europa. Legumes, ervilhas e feijão vão ser igualmente cultivados, assim como o arroz o será no Extremo Oriente, e o milho e a batata na América do Sul. Faço referência a estes dados pois nesta altura os alimentos chegavam para alimentar uma população que devido à descoberta da agricultura e seu desenvolvimento conseguiu fixar-se num só local, surgindo assim as primeiras aldeias, onde nascem então ou desenvolvem-se outras actividades humanas. Estavamos nos primórdios da Humanidade ou seja na Pré-História. Estas mudanças são muito importantes porque o homem começa a fixar-se num só local descobrindo novos materiais e formas de o trabalhar. Na Mesopotânia aparecem as primeiras cidades, verdadeiras cidades-estados. As primeiras civilizações da História nascem assim no Próximo Oriente.
Os homens inventam então a escrita e é a existência de testemunhos escritos que marca a transição da Pré-História para os princípios da História. E durante este período tenho a certeza que os desperdícios eram quase nulos. Pois o homem dependia daquilo que a Natureza lhe dava logo era necessário gerir muito bem os recursos para não passarem fome.
A humanidade foi evoluindo e com ela a forma de nos alimentar também. Com a Revolução Industrial no século XVIII na Inglaterra as mulheres começam a trabalhar fora de casa e os hábitos alimentares mudam para “pior”. Pois começamos a ingerir alimentos congelados, mais acuçar e até chegar à comida processada foi um salto.
Se analisarmos a evolução do que o homem comia no passado e o que come agora rapidamente percebemos as diferenças e o impacto que essas difenças representam para o planeta.
A Organização Das Nações Unidas (ONU) adverte : só o despedício de alimentos causa 10% dos gases de efeito de estufa.
A Terra transformou-se numa despensa sem prateleiras e fundo da qual retiramos o nosso sustento, muitas vezes mais do que precissamos.
Os nutricionistas afirmam que na nossa dieta sobram carne, peixe, alimentos processados, gorduras, acúcares e lácteos e faltam os ingredientes que os homens primitivos ingeriam em fartura e que são essenciais como frutos e verduras. Desta forma podemos afirmar que quer nós, humanos, quer o Planeta estamos sob uma pressão sem precedentes na História.
Além de produzirmos em excesso, também desperdíçamos muita comida. A ONU estima que 1,3 de toneladas anuais de alimentos – 1/3 da produção mundial – termina no lixo inclusive antes de chegar a nossas casas.
Como é que isto é possível? Pois enquanto isto acontece, 10,5% da humanidade sofre desnutrição e 26% tem excesso de peso e os gases de efeito de estufa (GEE) derivados da indústria alimentar significam entre 25 e 30% das emissões totais que propiciam a crise climática actual. Alguma coisa aqui parece não estar bem. O que se passa? O que podemos fazer para inverter tudo isto? Qual será o melhor caminho a seguir?
Os dados que referimos acima correspondem ao último relatório do Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas, que estima também que a perda e o desperdício de alimentos causaram entre 8 e 10% das emissões de gases responsáveis pelo aqueciemnto global durante o período entre 2010-2016. Este estudo chega à conclusão que as mudanças climáticas na terra estão relacionadas com as razões do desperdício alimentar e variam em funções dos países e do seu desenvolvimento.
Por exemplo, em 2018 a Organização para a Alimentação e a Agricultura (FAO) revelou que o desperdício de alimentos nos países mais desenvolvidos como Nos Estados Unidos, Europa ou China, acontececem, principalmente durante a distribuição e em nossas casas. Porém , nos países menos desenvolvidos sofrem perdas em quase todos os setores da cadeia alimentar ao terem, geralmente piores infraestruturas arcaicas e menores recursos para a produção.
Obviamente que esta situação tem custos e os efeitos negativos no clima ao desperdiçarmos alimentos comprometem a nossa capacidade de produzir. Está na altura de fazermos um “upcycling” na cadeia alimentar e encontrar soluções, pois as mudanças climáticas afetam directamente os quatro princípios da segurança alimentar: disponibilidade, acesso, consumo e estabilidade(Fonte Lancet-2019).
A produção de alimentos deixa um sabor bastante amargo no planeta. A Organização das Nações Unidas calcula que a indústria alimentar é responsável por 30% do consumo energético mundial e por 22% dos gases que provocam o aquecimento global.
Os cálculos da Food and Agriculture Organization (FAO) advertiram que em 2050 seremos mais de 9,7 mil milhões de seres huanos no planeta e que vamos necessitar de produzir mais de 60% de alimentos. Juntando a isto as mudanças que estamos a viver é urgente pensar num mundo mais local. A globalização sob o meu ponto de vista caminha a passos largos para o fim. Vamos estar cada vez mais próximos uns dos outros mas a uma escala menor, local onde se valoriza a importância no equilibrio, na redução, pelo que é natural e ecológico, num consumo de alimentos da época, num comércio mais justo que promova uma relação comercial respeitosa e não o lucro desenfreado e por fim na criação de grupos comunitários de consumo.
Deixo-vos aqui alguns links para aprofundarem mais a matéria se assim o desejarem.
Boas transformações.